Os olhos opacos ainda buscam nas névoas do tempo as mesmas alegrias da tenra juventude. São sonhos , são lembranças, alegres e tristes, recordações de uma vida vivida, sofrida, trabalhada e chorada nos vales e nas estradas oferecidos pelo mundo.
Hoje já caminham trôpegos, muitas vezes desamparados pelos próprios filhos e comumente desamparados pela sociedade.
O seu espaço é irrisório num mundo que se diz civilizado, são trapos abandonados, fardos que ninguém deseja carregar.
Pobres velhos que já deram de seu quinhão para a criação de suas famílias, que com o suor fizeram as riquezas de muitos e, hoje amargam o ostracismo e o desdém, pois seus conhecimentos já são ultrapassados e a força de seus braços é nula.
Tristes anciãos que lutam desesperadamente para serem ouvidos, para serem reconhecidos e amados. Há os que suportam o descaso dentro das casas de seus próprios filhos e outros que foram depositados pelos seus familiares em asilos e, que passam os derradeiros dias de suas vidas numa rotina interminável de mesmices e raramente são visitados pelos que deveriam dar a eles maior amor.
Observo essas belas criaturas que o tempo implacável mudou e vejo nelas muitas histórias de superação. São homens e mulheres que num passado distante sofreram as agruras dos tempos difíceis da ditadura, do desemprego, das mudanças políticas e das políticas sociais que muitas vezes nunca chegaram a atender aos anseios da sociedade de seus tempos.
Vejo esses pobres velhos e velhas disputarem lugar em filas de hospitais, nos assentos de transportes públicos e não há como não se indignar com tamanhos descasos, não só das autoridades competentes mas da própria sociedade que hoje jovem, não espera ou não acredita que um dia poderão ser velhos.
Quando observares mais atentamente esses lindos velhos e velhas, observe também seus olhares, o peso do tempo nas rugas e o quanto de ensinamentos jazem ocultados em suas mentes cansadas e em suas frágeis memórias. Muitas pessoas não se detém para ouvir esses anciãos, pois suas conversas são enfadonhas, seus relatos são repetitivos, seu tempo já passou e, se esquecem que caminhamos inexoravelmente todos os dias para o fim e que, ser ouvido, é tudo ou quase tudo que essas pessoas desejam.
Os nossos velhos e velhas precisam principalmente sentirem- se vivos e não apenas um vegetal esperando a foice da morte para serem segados como são ceifadas as colheitas de trigo maduro.