Só Eu verdadeiramente te conheço,
Como um Anjo da Guarda te protejo,
Vou e venho com a brisa do Tejo,
Vou contigo e em Ti permaneço.
As lágrimas e os soluços sufocantes,
Decifraram o enigma da Vida,
Nas ondas do mar consolantes,
Vim com a maré e o luar convida.
Partilhaste a tua dor comigo,
Numa noite fria e soturna,
Cheguei com a luz da aurora amigo,
E iluminei-te a face taciturna.
Desfizeram-se os teus sonhos de mulher,
Simplesmente porque já cresceste,
Sorveste o último laivo à colher,
Vim com a chuva e a rua desceste.
Se a tristeza não te abandonar,
Vai de manhã logo de madrugada,
Deixar a tua alma liberta voar,
Eu logo virei com a Morte abrigada.
Se andas sozinha no Mundo,
Vem com o vento levemente,
Vem comigo lá bem ao fundo,
Onde as sombras inebriante a mente.
Fecha a porta à imaginação,
Deixa irem embora os sentimentos,
Larga os teus sentidos à extinção,
Ao vazio deixa os desalentos.
Porque a Noite é reconfortante,
Meiga e companheira fiel,
Deixa-a embalar-te bastante,
Adoçar-te a alma neste Mundo fel.
Porque ela é incolor também,
É a paz infinita com certeza,
Eterna para além de todo o bem,
O silêncio impera sem música nem tristeza.
Eu te reconfortarei à noitinha,
Porque eu não existo como tal,
Eu nada sou e não és minha,
Deixa de ser comigo e dá a vida como aval.
LX, 17-7-2001