Tudo é rápido

(palavras à dona Ivone Chaves Passos)

Tudo é rápido, menos a pobreza:

A chegada do filho que se espera,

A velhice que a todos degenera

E a morte, que é única certeza;

Acelera-se o mês, chega a despesa

Quando já se acabou todo o dinheiro.

O que é bom quase sempre vai primeiro:

Tudo é rápido, menos a pobreza.

Tudo é rápido. Rápido e rasteiro:

O prazer comparado a uma conquista

É o nocaute que apaga o pugilista

Que vencia – no “round” derradeiro;

Certas juras compradas a dinheiro

Normalmente não duram muito não:

Quando o amor é uma peça de leilão

Tudo é rápido... rápido e rasteiro.

Tudo é rápido. Sente o coração

O que o corpo faz muito já sofria

E o infarto, quando se anuncia

É apenas desfecho da lesão.

Vida e morte são ciclos da missão:

Uma leva, outra traz, o tempo aponta

E por mais que a pessoa esteja pronta

Tudo é rápido e sente o coração.

Tudo é rápido. Nem nos damos conta

Da beleza que está na rapidez:

O que somos só somos dessa vez

E tem gente que teima e que confronta

Esperando que a vida venha pronta

Ao invés de cumprir a sua meta.

Vem o tempo impassível e decreta:

Tudo é rápido... e nem nos damos conta.

Tudo é rápido. A vida está completa

De exemplos de pressa e perfeição.

O prazer que se tem vem da ilusão

E a ilusão que se tem não é concreta.

E também isso é vida: nada afeta

A magia da força que nos leva.

Uns nasceram pra luz, outros pra treva...

Tudo é rápido e a vida está completa.

Tudo é rápido. Abre-se a cortina

Pra nuanças mescladas, desiguais,

Umas vão, outras vêm e há muito mais

Pra existência exibir-se na vitrina.

Neste afã toda a vida determina:

“É preciso que um vá pra que outro venha!”

A fogueira só dura enquanto há lenha;

Tudo é rápido e fecha-se a cortina!

São Paulo, 12 de maio de 2014 – 11h26