Teu retrato

Nasceste pra ser mulher:

Mais frágil do que parece...

Do tipo movido à fé,

Que busca força na prece,

Que teme, à noite, o escuro

E o que nela contiver:

Insetos de toda espécie

Ou bichinhos que rastejam,

Tendo medo que, de dia,

Te olhem sem ninguém ver;

O teu medo é que te vejam

sem ninguém te socorrer...

E até na fotografia

Tamanha é tua agonia

Que preferes nem olhar.

Chega a ser uma neurose

- Ou esses bichos ferozes

“Nasceram pra te atacar”!...

És assim... és bem assim:

Mais frágil do que parece.

Metade feita de prece,

Com fitinhas do Bonfim,

Ajoelhada, mãos postas,

E ao mesmo tempo disposta

A lutar até o fim;

Outra parte, além da fé,

É uma têmpera qualquer

Que Deus criou só pra mim.

Essa és tu... És “tipo assim”:

Demônio quando bem quer,

Ou um anjo de marfim.

Tu és assim. Bem assim...

No carro, dizes a quanto;

No debate, até o fim;

Nas compras, sabes o tanto;

Na praia, só se der pé;

Na relação, do teu jeito;

Ter razão, só quando deres...

Tu és assim, sem defeito,

O retrato mais perfeito

Da rainha das mulheres!

Tu és assim: muitas vezes

A extravagância em pessoa;

A que gasta uma fortuna

Naquela cortina à toa;

Capaz de uma tempestade

Que faz o mundo ruir;

Mas tu tens sobriedade,

Doçura e serenidade

De, em dobro, construir.

Lá fora – pros mais distantes –,

Sem conflito ou clima ruim,

Mas nem sempre tolerante

Quando se trata de mim;

Isso me torna importante

Na tua ordem do dia:

Tu és assim, sem defeito,

O retrato mais perfeito

Da mulher que eu mais queria!

Tu és assim: sedutora!

E a seda da tua algema

Aprisiona – protetora –,

Suave como um poema.

Tua voz, por vezes brisa,

Também se faz tempestade,

Dessas que implodem cidades

Roubando o chão de quem pisa,

Mas tens a tal sobriedade

E logo a serenidade...

Tudo em volta suaviza.

És assim... és bem assim:

Metade feita de prece,

Com fitinhas do Bonfim,

Ajoelhada, mãos postas,

E ao mesmo tempo disposta

A lutar até o fim;

Uma têmpera qualquer

Que Deus criou só pra mim.

Essa és tu... És “tipo assim”:

Demônio quando bem quer,

Ou um anjo de marfim.

Tu és assim. Bem assim.

A verdadeira mulher

Mora aqui, junto de mim.

São Paulo, 18 de março de 2014 – 12h10