O DIA DA DESCOBERTA

O dia da descoberta

Hoje acordei radiante.

Levantei muito disposto

E – juro! – nenhum desgosto

Fará sombra ao meu semblante.

Meu dia vai ter cascatas,

Terá um show de acrobatas

E um festival de balizas.

- Lá vem, de branco, a fanfarra;

Na frente, a dona cigarra

Uma canção vocaliza.

Sou eu o rei da calçada:

Vou namorar à distância,

Como fazia na infância,

Cobiçando a minha amada.

Se emoção possui memória,

Que eu viva de novo a história,

Sentindo a mesma emoção:

Professora Cayuela,

Dona de uma voz tão bela

Que ecoa em meu coração.

Hoje a canção espanhola,

Com seus versos infantis,

Resgata um tempo feliz

daqueles tempos de escola.

Como achava encantadora

Minha linda professora

Concepción Cayela...

As outras da minha sala

Eram velhas de bengala

Diante do charme dela.

No meu sonho era só minha.

Um dia, no corredor,

Eu xinguei um professor

Que lhe fazia gracinha.

Depois, no portão da escola,

Convidei o Pedro Sola

Mas o Pedro disse não.

Teve sorte o professor,

Porque cego pelo amor

Cordeiro vira leão.

Pagaria qualquer preço,

Sonhando estar nos seus braços;

Um dia segui seus passos

Pra saber seu endereço.

Me esquivando pelo muro,

Eu a seguia no escuro

Por trás da Igreja Batista;

Eu a seguia, contente,

Mas um carro, de repente,

Me fez perdê-la de vista.

Tudo estava ao meu alcance.

Deixa eu fazer treze anos...

É que, segundo os meus planos,

teria muito mais chance.

Registrei no meu diário

Que naquele aniversário

Eu a teria pra mim.

Nisso o tempo ia passando

E continuo esperando

Que ela responda que sim.

Hoje acordei radiante.

Levantei muito disposto

E – juro! – nenhum desgosto

Fará sombra ao meu semblante.

Meu dia vai ter cascatas,

Terá um show de acrobatas

E um festival de balizas.

Terá desfile, fanfarra;

Na frente, a dona cigarra

Uma canção vocaliza.

Sou eu o rei da calçada:

Vou namorar à distância

Como fazia na infância,

Esperando a minha amada.

Se emoção possui memória,

Como apagar minha história

Ou desfazer a emoção?

Professora Cayuela...

Já sei o endereço dela:

Aqui... no meu coração.

São Paulo, 15 de setembro de 2013 – 15h