O desconhecido que abriga a verdade mais profunda
Precisei me recolher no templo do coração
E iniciei uma longa jornada para os cumes mais altos do meu ser
Um frio glacial enchia a trilha solitária
E o vento castigava as encostas íngremes
Esse percurso precisei fazê-lo nu
Despido de roupas e armaduras
Só pude carregar o que me ia na alma
Em cada passo somente o peso daquilo que sou
Nunca achei realmente que iria conseguir chegar
Foi um caminho de incertezas, um duro caminhar
Tempo pra pensar e diliuir as certezas
Nas pegadas as marcas dos açoites inclementes da procela
Feras aladas sobrevoaram o despojo ambulante
Que avançava mergulhado no frio e no temor
Um medo que domina a alma
O desconhecido que abriga a verdade mais profunda.
O pico distante anuncia a redenção
Os pés calejados dessa andança insana detém o passo
E um novo ser vai despertando do sono profundo
O coração aguarda sem presssa a chegada do andarilho tardio
Já não tão longe vislumbro a claridade
E em minha pele lufadas de calor aconchegante
Pras feridas o lenitivo tão precioso
Pra alma a redenção tão desejada
Nectar precioso, guardado na mais bela taça dourada
Tanto andei pra me fartar de ti
Tantas dores se fizeram minhas companheiras
E aqui estou, coroado pela glória da vida plena
Nesta derradeira jornada
Que antecederá outras tantas desconhecidas
Sinto-me condecorado pela Luz Maior
E já absorvo novos segredos
Num trono esculpido em cristal
Deposito-me inteiro
Coroado como filho pródigo
Em retorno festejado
Por fim o trono é meu próprio coração
Um dia despedaçado
Noutro refeito
Pronto pra continuar a marcha
Pelo infinito afora.