Pra falar com total experiência
Esperei meio século de vida
Fui o jovem a quem nada intimida
E o tempo roubou minha inocência
Como todos têm prazo de vigência
Também eu já nasci sob medida
Findo o prazo então finda toda a lida
E ali não há fuga nem clemência!
Atracado na bomba da existência
Todo mundo já nasce suicida.
A criança ao nascer nasce perfeita
Mas o mundo que a molda, a degenera
Já no parto maltrata quem a gera
E essa mãe, por amor, ri satisfeita
Ela cisma o futuro, mas aceita
Porque mãe é guerreira e destemida
Medo algum do futuro a intimida
Muito embora ela tenha consciência
Que atracado na bomba da existência
Todo mundo já nasce suicida.
A criança, num passe ilusionista,
Ganha voz, ganha vez e rebeldia
Desenvolve artimanha e negocia
Seus direitos supremos e egoístas
Faz dos pais verdadeiros trapezistas
Com caprichos que os deixam sem saída
Novamente a verdade nos convida
A entender a divina sapiência
Atracado na bomba da existência
Todo mundo já nasce suicida.
Passa o tempo e, assim, bem de repente
A criança aprimora as armadilhas
O que um dia foi birra hoje é guerrilha
E a desculpa é que está adolescente
Desrespeita os mais velhos, forja, mente
Pra provar sua força a quem duvida
Sua tola visão, comprometida,
Não concebe que, até na adolescência,
Atracado na bomba da existência
Todo mundo já nasce suicida.
Depois chegam as rugas, o cansaço...
O direito ao que não tem mais vontade
Pouco pode fazer porque a idade
Subtrai a firmeza de seus passos
Na trincheira da dor e do fracasso
Justifica as mazelas e feridas
Porém sabe bem pouco dessa vida,
Sendo agora um fantoche da demência
Atracado na bomba da existência
Todo mundo já nasce suicida.
São Paulo, 10 de junho de 2013 – 21h54