Menina era
Sentada na terra,
Torrão vivo, úmido.
Frescor das andorinhas
Sombra da mangueira
Raios de luz, sonhos de luz.
Brilhavam teu vôo
Instantes efêmeros
Imagens múltiplas do prazer, felicidade.
Agarrava salamandras, anjos, infantes...
O azul não queimava ao sol
E dela surgia esperança...
Querência da moça alegria, do amor.
Menina era
Sentada na terra...
Broto explodindo formas de desejos
Beijava, agarrava o dourado fruto.
Mordia, sorvia doce pedaço amarelo do sol.
Pecados, gozos... redenção!
E assim, menina foi atrás dos sóis,
Lençóis, nuvens noivas molhadas.
Na subida aos alindres,
Entre esgalhos, folhas verdejantes...
Rebento em carne rosa
Corpulenta gostosa
Menina era... Menina era...
Na descida da vida,
Cansada, sentada à cama...
Nas manhãs em vidro de janela
Um pouco tardias, mas ainda ardia.
Na triste caatinga sertaneja,
Com as cascas secas do fruto...
Sobre ela, a roda de andorinhas,
Coroa de louros de outrora.
Cíntia Thomé
Faz parte do livro da autora Cíntia Thomé - OLHOS DE FOLHA MINHA
pela livraria Saraiva
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