A CASA

A CASA

De sobre o promontório

a casa é minúscula

liliputiana

À medida em que me aproximo

percebo a amplidão do sítio

a fortaleza das colunas

a firmeza da amarração

o esmero no acabamento

o conforto da varanda.

Circundo a construção, admirado.

A mão, nada subalterna

torce a maçaneta azinhavrada.

A luz do dia fulgura nos cômodos

vazios, enche as paredes nuas.

dentro da obra inacabada, assusta-me

a pequenez do arquiteto

que abusou de excesso de ciência

para estilizar o que é rude

como soe a toda harmonia.

Algumas portas não se abrem

atiçando o rubor da curiosidade

até que se a molde em conformismo

muito embora se possa tentar adivinhações

baseado no conjunto já visto

da obra por terminar.

Tento definir o que vejo

mas todas as palavras são vazias.

Inúteis as canetas.

Como se fora me sufocar

ao ouvir a flauta de Pan,

desando a descerrar janelas possíveis

escancarar as portas que m’as permitem.

Desabalo pelo corredor

até alcançar o alpendre

onde desmonto, calado e imóvel.

Aboleto-me ao sol retirante

aninhando-me no aconchego

de um coração desencantado.

Na modorra, no vazio inútil

de gestos e palavras

apenas contemplo, sem músculos

o que construí de mim

enquanto desvendo outras casas

que vão surgindo ao longo

com outros eus a desmontar nas sacadas.