Contrastes
 
Não fosse o sol, que agora brilha ali na praça,
nenhuma chuva lhe seria um contraponto.
Não fosse o gesto que nos deixa assim sem graça,
nenhum de nós se notaria um tanto tonto.
 
Aquela dor, que às vezes vem e depois passa,
reforça a ideia que o destino nunca é pronto,
que o nosso espírito se abala na desgraça,
mas se renova e, reagindo, ganha um ponto.
 
Não fosse certo que existisse a finitude,
viver seria algo bem fútil por descuro
e a salvação algo banal, quase obscuro.
 
Não fosse o tempo, que nos rouba a juventude,
talvez jamais houvesse o dom de ser maduro.
O tempo diz: “o mal lhe trago, o mal lhe curo”.