(fotografia Sérgio Dantas)
Voltarei com a Chuva
A seca cisterna já não sacia minha boca sedenta, tenho calos nas mãos, o pouco gado que ainda possuo rumina o choro de meu coração;
Estiagem cruel que assola voraz cada palmo desse seco chão, o açude já não mais sangra, só o que verte sangue é o meu gibão;
O Mandacaru já não recorda de sua última flor que enfeitou o sertão, as Algarobas inertes a qualquer sofrimento, reluzem o verde de um esperançar em vão;
Alastrados ressecos, palmas minguadas, juazeiros cansados desse meu sertão, galo de campina nas cercas, abelha italiana, calangos ligeiros e vagem no chão, a Asa Branca há tempos não retorna trazendo notícias de água no chão, fogão de lenha aceso, torrando os sonhos e assando ilusão;
Tilápia não se encontra, nadaram pra longe desse mundo cão, traíra com lama, angu com caroço, melaço e farinha, a única fartura, a sustentação, cada maxixe que colho, cai uma lágrima, de chorar estou cansado, minha alma tem um talho, vou deixar o meu sertão;
Voltarei com a chuva que hoje o céu nega, levo angústias, deixo o meu coração, pendurei minha espora, meu chapéu já sambado, meu gibão tá guardado, sepultei meu alazão.