Há seis meses do acidente
E ninguém mais acredita,
Mas ele ainda palpita,
Suspira e depois se cala.
Totalmente inconsciente,
Parece que não tem fala,
Que a vida ficou pra trás...
Por isso este meu conselho:
Desliguem esse aparelho,
Que o moço descansa em paz.
A um passo de seu traslado
O moço, calado, implora
Que o deixem seguir agora,
Por tudo o que escuta e vê:
O povo, sendo humilhado,
Rebola, nu, na TV
E a plateia pede mais.
Neste total destrambelho,
Desliguem esse aparelho
Que o moço descansa em paz.
Lá fora, mais um assalto;
Outra criança no crack;
Um senador noutro saque
De dez milhões em propina;
Mais roubo lá no Planalto;
Outro hospital em ruina;
Outro prefeito incapaz...
Por isso tudo aconselho:
Desliguem esse aparelho
Que o moço descansa em paz.
Rebelião no presídio:
Um em cada dez detentos
Estuda e os truculentos
Humilham os menos fortes
E exigem mais subsídio
Sem que a direção se importe,
Com isso ela ganha mais...
Fica o país de joelhos.
Desliguem esse aparelho
Que o moço descansa em paz.
Desliguem esse aparelho,
Origem de tantos males!
Mas antes que alguém me fale
Que é ele o monstro feroz
Eu lhes digo: ele é o espelho,
De tudo o que somos nós,
Por isso é tarde demais:
Esqueçam o meu conselho,
Tanto faz esse aparelho...
Pra um povo assim, tanto faz!
São Paulo, 29 de abril de 2012 – 10h03