COISAS QUE VI NO SERTÃO.
VI AS MUIÉ DO SERTÃO
PERDENDO A SUA PUREZA
ISPIANDO AS SAFADEZA
QUI SÁI NA TELEVISÃO.
VÍ ABOIO DE VAQUÊRO
VI LAVÔRA SE PERDENDO
VI O SOL QUENTE BEBENDO
DA AGUINHA DO BARRÊRO.
VI MINTIRA DE CAÇADÔ
VI MISTERO DE CAIPORA
VI SARAMPO E CATAPORA
IMAGE INRIBA DE ANDÔ.
JUMENTO CAMBALIANDO
NO PESO DA MUIÉ MAGA
VI TODO MUNDO CANTANDO
COISA DE LUIZ GONZAGA.
VI A GATA SE LAMBENDO
NO BURRÁIO DO FUGÃO
VI O MININO CUMENDO
O BARRO SUJO DO CHÃO.
VI A FALA SUFOCADA
DENTO DA GUELA DO HOME
QUANDO ELE VIU A OSSADA
DA VACA MORTA DE FOME.
VI DISCULPA ISFARRAPADA
NUM COMÍSSIO DA CIDADE
VI O POVO CUM SAUDADE
DUMA BOA TREVUADA.
VI A DONZELA CUM FOME
ISCUNDIDA NO MUNTURO
NUMA NOITE DE ISCURO
ISPERANDO O LUBIZOME.
VI O JUMENTO CAVANDO
A LAMA TODA RACHADA
VI O SOL QUENTE RACHANDO
A CRUZ NA BÊRA DA ISTRADA.
VI MININO SEM ISCOLA
VI A PANELA SEM NADA
VI A TRISTEZA CHORADA
NAS CORDA DUMA VIOLA.
VI A FESTA DOS ARUBU
NO BAFO QUENTE DO VENTO
VI O LINDO ATRIVIMENTO
DA FLÔ DO MANDACARU.
VI QUANDO O SOL CLARIÔ
BEJANDO A BOCA DA MATA
VI A LUA COR DE PRATA
INCENTIVANDO O AMÔ.
VI O ROSTO CHEIO DE PÓ
E O OLHÁ DE DISINGANO
DA MOÇA DE TRINTA ANO
QUI FICÔ NO CARITÓ.
VI NO MÊI DE TANTA SEDE
RASGA-MORTÁIA CANTANDO
VI O INTERRO PASSANDO
CUM O DIFUNTO NA REDE.
VI CASÁ SE AMANSEBANDO
PUR FARTA DE TISTIMUNHO
VI BARBULETA GIRANDO
PUR DENTO DO RIDIMUNHO.
EU VI UM CABRA DA PESTE
NA PUÊRA ALEVANTADA
REPRESENTANDO O NORDESTE
NAS FESTA DE VAQUEJADA.
VI A BATIDA SAUDOSA
DE UM CHUCÁIO TOCANDO
VI CARRO DE BOI CANTANDO
CUM SUA VÓIS TÃO GOSTOSA.
VI ENTRE O CÉU E A TERRA
UM PESADO NIVUÊRO
RASGADO PELO CRUZÊRO
QUI TEM NO ARTO DA SERRA.
VI MUIÉ ISMULAMBADA
HOME DA MÃO ISTIRADA
VI A PRECE DO VAQUÊRO
A REVORTA DO RUMÊRO
DISPERTANDO A SUA MÁGUA.
INRIBA A NUVE PASSANDO
IMBAXO O POVO ISPIANDO
CUM OS ÓIO CHEIO D’ÁGUA.
EU VI A VACA SORTÊRA
DÁ BERRO CHAMANDO O TÔRO
A CURUJA NA CUMEÊRA
SORTÁ SEU GRITO DE AGÔRO.
VI A VIOLA NAS MÃO
DUM CABÔCO APAXONADO
VI MOÇA DANÇÁ BAIÃO
NO CAMINHO DO ROÇADO.
VI VACA MORRÊ DE PARTO
SEM TÊ FORÇA PRA DÁ CRIA
VI ARUBU LÁ NO ARTO
PINOTANDO DE ALIGRIA.
VI A BIZERRA TÃO MAGRA
QUI VAI ANDÁ E NUM PODE
VI A ONÇA PEGANDO O BODE
QUI TAVA PEGANDO A CABRA.
VI A FAMA DE LAMPIÃO
A FÉ DE FRÊI DAMIÃO
A FORÇA DO PADIM CISSO
VI ABÊIA NO CURTIÇO
SEM FULÔ PRA FAZÊ MÉL.
VI ASSENTADO NO CAMPO
O POVO ISPIANDO O CÉU
A PRECURA DE RELAMPO.
VI O BUZO BALANÇANDO
NO CINTURÃO DO VAQUÊRO
TERRA INTUPINDO BARRÊRO
ANIMÁ CAMBALIANDO.
VI MUIÉ GEMÊ DE AMÔ
DISAFIANDO A MISERA
VI FAXÊRO DÁ FULÔ
NO TÊIADO DA TAPERA.
VI NA BÊRA DO CAMINHO
O CÔRO DUM BOI DE CARRO
A RAIVA DO JOÃO DE BARRO
TAPANDO A BOCA DO NINHO.
A BIZERRINHA TÃO FRACA
SÓ TINHA O OSSO E O CÔRO
VI O COITADO DO TÔRO
CAÍ DE RIBA DA VACA.
VI CAINDO NA FRAQUEZA
A FAMA DOS CORONÉ
A FUMAÇA DOS CHAMINÉ
PERDENDO A SUA BELEZA.
VI A FORÇA DO CHICOTE
PERDENDO SEU DISIMPENHO
VI O SINHÔ DE INGENHO
AMULICENDO O CANGOTE.
VI O ROSTO ISQUISITO
DUMA CARRANCA APREGADA
NA FRENTE DUMA JANGADA
ATRAINDO MAL ISPRITO.
E DE TANTO ELA ATRAÍ
HOJE O RIO SÃO FRANCISCO
JÁ VEVE CORRENDO O RISCO
DE DEIXÁ DE ISISTÍ.
EU VI MUIÉ TÃO ISGUÍA
QUI NUM FAZ RESTA NO CHÃO
VI O CHORO DAS FAMÍA
INRIBA DUM CAMINHÃO.
VI VAQUÊRO SEM GIBÃO
CABRA DO SEISSENTOS DIABO
PEGÁ O BOI PELO RABO
BATÊ CUM ELE NO CHÃO.
VI PREFEITO MERECENDO
UMA SURRA DE URTIGA
VI AGRICUTÔ PERDENDO
A GUERRA CONTRA A FURMIGA.
VI A GRANDEZA QUI TEM
NO CORAÇÃO DAS MUIÉ
VI UM IXEMPLO DE FÉ
IM NOVA JERUZALÉM.
PRA TIRÁ A MINHA PÁIS
VI MINHA QUIRIDA TERRA
QUI TANTA BELEZA INCERRA
SOFRENDO CADA VEZ MAIS.
PRA CORTÁ MEU CORAÇÃO
VI GENTE PASSANDO SEDE
INQUANTO A MACONHA É VERDE
CUM ÁGUA DE IRRIGAÇÃO.
VI NO MÊI DESSA MISERA
O RETRATO DUM PREFEITO
SIRRINDO BEM SASTIFEITO
NA PORTA DUMA TAPERA.
MEU CORAÇÃO NUM AGUENTÔ
AQUELE SORRISO INGRATO
EU RASGUEI O SEU RETRATO
E O MEU TITO DE INLEITÔ.