Algazarra no teu corpo

Algazarra no teu corpo

Eu me faço borboleta

no teu corpo — que algazarra!

Vou pousando em cada vaga,

como em prados verdejantes...

E no pomo dos teus seios

acomodo minhas garras,

nessas lúcidas e loucas

investidas delirantes.

Mas ai que primavera! teus aromas,

tua essência

me tornam colibri para teus lábios

cuja flor

domina minhas asas. E minha alma,

quando pensa,

atônita fraqueja, embriagada

pelo amor...

Mas se um dia te cansares

— natureza também cansa —,

essa pobre borboleta,

que brinca de colibri,

nesse dia há de buscar-te

nos caminhos da lembrança,

como órfã que soluça

sem motivos pra sorrir...

O mundo será palco de um cenário

muito triste:

que pode um colibri vivendo longe

do jardim?

A pobre borboleta sem ter pólen

não resiste

e nada tem sentido quando o mundo

fica assim...

Ah! se um dia te cansares

tudo então será fadiga.

Porque todas as belezas

São erguidas sobre ti:

ah! se um dia te cansares,

cansará também a vida

dessa pobre borboleta

que quer ser teu colibri.

Itapecerica da Serra-SP (Aldeinha), 23/10/1991 – 23h20min