I
Brilhava na colina o sol doirado
E a formigueira turba acalentava
Uma remota esperança que habitava
Dentro do coração esfarrapado.
'É tempo de parar', alguém gritava
Por entre o arvoredo horrorizado.
'Arreda atrás, Golias exasperado,
Deixa que David more onde morava'...
Mas enquanto os canhões continuavam
A esburacar as casas denegridas
Ceifando aqui e além algumas vidas ...
De longe, pelos ares, esvoaçavam
As pedras das calçadas delituosas
Afrontando seu alvo temerosas !
II
Algures no caminho do Egipto,
À sombra de frondosas tamareiras,
Se juntaram três reis e três bandeiras
Apresentando a paz para o conflito ...
O rei do Novo Mundo com maneiras
Procura debelar aquele atrito,
Entre Golias e David aflito,
Nada passando de cruéis canseiras...
Nesta Ramala agora esfrangalhada
E de interesses plurais engalanada
Faltam a fé e a estrela indulgentes ...
O diferente entre hoje e dois mil anos
É que os reis eram Magos e não tiranos
E amavam pela certa suas gentes !
Frassino Machado
in O NATAL DO MUNDO