Ele:
-Que te assusta, além da noite,
da escuridão dessa estrada?
Que te encolhe assim no canto
enquanto eu te falo nada?
Que te rouba o riso e o pranto,
lívida e branca, cismando
na escuridão dessa estrada?
Ela:
-Cismo esses dedos suaves
que acarinham, que me apontam.
Cismo, leve, coisas graves
que minhas cismas não contam.
Cismo segredos que calo
e outros que desconheço,
cismo aquilo que não falo:
silêncio que não tem preço...
Ele:
-Não se permita a tristeza.
Lá, depois da correnteza,
tudo vai suavizar...
Sendo água, somos rio,
mas nas épocas do estio
é difícil navegar...
Ela:
-Não me sinto navegante,
nem dona da embarcação;
o que sinto, nesse instante,
sequer tem explicação...
Ele:
-Nem precisa... um bom sorriso
diz muitos “sins”, muitos “nãos”.
Nem precisa... eu não preciso
de nenhuma explicação.
Ela:
-O que assusta, além da noite,
nada tem de escuridão.
Se me encolho assim no canto
não são meus “sins” nem teus “nãos”...
O que, na noite, me assusta,
é não saber se essa busca
tem motivo, tem razão...
Ele:
-Nem precisa... não preciso
de nenhuma explicação.
Nem precisa... o teu sorriso
remove esta escuridão.
Sabe o que falta? Sorrir...
Ou morrer de solidão!
Itapecerica, 08 de junho de 2007 – 21h10