MÁQUINAS

MÁQUINAS

DEZ horas de breu e fumaça com a mão

que escreve encoberta do pó de ferro dessas ferroestradas.

Café, com pão café, com pão

lá vem o trem das dez e dez

café com pão

lá vem o trem.

As mulheres, cansadas, cabeceiam

Os homens fumam, nicotinosos

O trem, luz piscante. veloz, impensante

consome distâncias, devora trilhos

que refletem o neon dos bares

que devoram o cansaço dos homens.

As mulheres não se esforçam, nessa modorra

por parecerem bonitas ou por terem ares de

sempre novidade, como costumam transpirar.

Seus ventres enormes, sua fadiga maior

e segue o trem, impassível,

enquanto homens cochilam de boca aberta

sem se preocuparem em não mostrar as

falhas nos dentes, como agem durante o dia,

escudando-se atrás de um sorriso tímido

ou de falas apagadas, tão baixas são.

Os homens sonolentos, as mulheres prenhes

o trem incansável.

Os trilhos paralelos, sem levar a lugar algum

estendem-se à frente da máquina que não

mede o cansaço daqueles que vão em seu bojo:

vou-membora já é hora, voumembora já é hora

voumemborajaéhora, repete ela, célere,

sem sentimentalismos fúteis.

Dorme, velho menino plácido, no leito fórmico

do bicho metal rangente

ao som do café com pão café com pão.

A noite diamantina cobre o céu

sob o qual segue a composição.

E segue o trem em sua marcha,

imbatível o monstro de frio aço.

Café com pão café com pão(Balas de Leite!!!)

este é o trem das dez e dez, café com pão

cujo som é o único alimento

dos meninos adormecidos no útero do vagão:

café com pão.

Quando o mistério é demais,

milagres acontecem espontâneos,

penso.

Sem pensar, furando o breu pegajoso

respingado d’estrelas, segue o engenho

carregado de homens sem desempenho

oh não! esquece café com pão

esquece Bandeira, teorias, Mcluhan,

Strauss, o Velho Carlos;

perca-se do mal da civilização,

não se embriague com poesia salvação;

delicie-se com as balas de leite, trituradas

pelo molar do Erectus Robustus suavizado.

Encoste sua mão operária na minha testa pagã,

tapa minhas vistas, doridas do pó que reveste

as mãos, a alma e estradas.

Os homens parvos

As mulheres grávidas

A máquina repleta, resfolegante

como a dizer:

d e v o r a r t e e i sem ne nhum r e m orso

carregarteei para o fundo do poço

fundodopoço

fundopoço

fimdopoço

funnndo

poooooço

fim

pó.