Soneto da Viagem Final

(a outra abordagem da saudade:

aquela que dá vontade de ser apenas essência

e nunca mais sentir saudade...)

Eu me vejo, ao fim da tarde, um ancião.

Que foi feito do vigor da adolescência?

A esperança escorregou da minha mão

e se foi, sem compaixão, sem ter clemência.

Nada posso. Nada faço. Os anos vão

e de nada mais me vale a experiência.

Peço vida, mas o tempo diz que não;

peço tempo, mas os anos têm urgência.

Peço, ao menos, que esta vida tenha pena,

que me deixe numa noite de luar

com a brisa apaziguando a fugaz cena.

Sob a lua prateada, leve e plena

a minh’alma certamente há de voar

e fugir para onde está minha pequena.

Buritizeiro, 29 de maio de 2007 – 19 horas