O VENDEDOR DE BOTÕES DE ROSAS
Moacyr é sujeito mofino
De maconha, cocaína, pneumonia
Cola de sapateiro e tudo mais
Que vende botões de rosas aos prostitutos
Para que os dêem às prostitutas das boates
Da av. Mén de Sá, Pçª Mauá e adjacências.
Moacyr passa suas noites andando
E suas tardes a despinhar; embalando
Fazendo rosas, pintando-as do vermelho
Mais vermelho para que adocem as bocas
Maltratadas dos homens e mulheres
Nas boates de madrugada.
Moacyr chega com um sorriso:
- O cavalheiro vai presentear a mais bela
dama com a rosa mais bela da cidade.
Assim, todas aquelas mulheres
Tornam-se moças casadoiras, felizes
Recatadas, como o foram um dia
No mais interior dos interiores do país;
Elas refulgem, brilham por trás da sombra
Blush, batom, rouge, pó de arroz
Alisante wellin, esmalte, unhas postiças
E campari.
Moacyr apresenta a rosa
Que das mãos do cavalheiro
Passa às mãos da moça
Que a beija. Beija o companheiro
E sonha, dança, rejuvenesce
Por detrás do cabelo e idade, falsos.
Moacyr vai de mesa em mesa: o cavalheiro...
De boate em boate: a mais bela...
Os leões o conhecem ,
Fumam um resto de baseado na porta
Ele entra, dois tapinhas nas costas:
...vai presentear a dama mais bela...
E Moacyr sai, gorjeta para o porteiro,
Dinheirinho no bolso, assobiando samba
Baixinho, malandro na noite
Sem saber que transformou vidas
Que quebrou a carapaça da dureza humana
Que, durante alguns minutos, aqueles botões
De rosa foram o bem mais caro
Àquelas mulheres tão baratas.
No céu, o Deus de plantão
Absolve Moacyr da cocaína, da maconha,
Dos gonococos e o ajuda, depois do morro,
De manhãzinha, a encontrar o caminho
Da Praça da Cruz Vermelha
Onde ele se acocoroca
Para separar e acariciar botões de rosas.