Ah, cegar-me... assim,
ao sol de inverno,
pisar na terra nua e fria,
e cegar-me, ficar tonto de luz,
e desorientar-me ainda mais...
Cegar-me... assim,
ao sol morno desses dias,
até que a razão se esfume,
e o meu desejo de ti não mais
encontre barreiras fúteis...
Cegar-me... assim,
ao sentir em meus olhos os teus dedos
tirando-me a visão dos entornos,
mas trazendo até os meus lábios,
o gosto molhado, quente, o almíscar
do teu sexo encharcado de desejo.
E de olhos vendados, perder-me
na calmaria das tardes de inverno,
esquecer-me em [nossos] devaneios...
Deixar o maravilhoso corpo alado do amor
cursar a distância do infinito azul, voar enfim,
sobre os montes, os rios, as estradas...
Ao amanhecer, os lençóis revoltos,
o quarto em desordem, algum vinho
ainda restante nas taças deixadas no chão,
os teus cabelos espalhados no travesseiro,
e o nosso cheiro impregnado nas mãos,
na boca, no peito... onde mais...
[Antes, eras só um sonho ligeiro...
mas agora, eu acordei — és um devaneio!
Se cada vez mais tu me acostumas a ti,
tu me vicias em ti, como não te devanear?]
[Penas do Desterro, 13 de julho de 2011]