HOMEM NOVO

HOMEM NOVO

Somente para seus olhos

eu trouxe este novo homem

denso de Platão, Kafka, Camus, Heidegger

um homem novo que criei

como se fora de estimação.

Trouxe este homem para

passeá-lo pelas ruas frias

deste mundo de Minasl

para erguê-lo da tenda

na qual se refugiara.

Trouxe este homem agnóstico

para tentar fazê-lo cantar.

As rédeas, eram as da tristeza

do extermínio, da solidão

que lhe habita os poros.

Trouxe este novo homem

apenas para seus olhos.

Mas não há de lhe fazer bem algum

conhecê-lo ou decifrá-lo.

De mim, podem tentar vislumbres.

O homem que trouxe

não é o homem que sou.

Ele é um homem que quer

ser discutido, não sentido

ou entendido tão somente.

Este homem, tratem-no como visita,

ele se manterá alheio a tudo.

Seus olhos estão irremediavelmente cegos

para tudo o que puderem ver.

Ele não discute, não assente.

Seus pescoço é um feixe de fibras

que não se verga.

Sua boca, montanha ôca

onde vozes reverberam

para serem decodificadas em sua metáfora.

Não abracem este homem que trago

que seu corpo não suporta gentilismos.

Não o firam!

Suas pernas, firmes, andam sem causa,

sem bandeiras erguidas, sem hinos.

Este é o homem que trago,

eu sou um de seus mimetismos

um de seus disfarces para passar ileso

entre seus próprios perigos.

Eu tenho cá essa arma

mas o dedo que a dispara

é o do homem que arrasto comigo

apenas para seus olhos verem

e esquecerem que existo