É proibido perder a calma.
Hoje ainda uma centena de células se multiplicará
E breve nem um átomo restará solitário.
Há um sol por trás de cada nuvem
E outro depois da noite.
Há uma estrela acima de cada pinheiro
E outras depois do crepúsculo.
Como nós,
Famintos de sentimento,
Gulosos pelo outro dia,
Há milhões de Joões
Sem pão e sem Maria,
Embora a grandeza do universo
E a caridade da vida.
É proibido perder a calma.
Não se pensará muito no passado,
Que lembrar é perder metade do presente.
Não se planejará muito o futuro,
Que sonhar é perder a outra metade.
Viver é a solução
– intensamente cada loucura –
E não deixar que se percam as coisas boas;
Perdidas, tornam-se lembranças...
E não procurar o intangível;
Procurá-lo, chama-se utopia...
É proibido perder a calma.
Permitido apenas que no silêncio
Descubra-se uma brisa
Dessas que deixam a gente sereno,
Tentando dormir em paz.
Cruzeiro do Oeste-PR, novembro/1985