CULTURA

CULTURA

Estar vivo é um gesto infecundo

de Deus saltimbanco

Mecenas do mundo.

A trupe sem parada

vai encenado em cada estacada

a história do absurdo.

O Filantropo apenas observa

Cansado de tanto ensaio

aguardando a estréia da peça

que nunca se apronta

Retocando o rosto

ajeitando a roupa

o Grande Homem quer seus lucros!

Exigindo uma grande abertura

o Benemérito ordena perfeição

ao mambembe de pouca criatura.

Suando sob a lona

o terno branco, roto

o Senhor cansa-se do desastre

da mediocridade dos atores principais:

bebe com os figurantes

xinga nos camarins

dorme no relento dos botequins

Desesperado

inverte todas as falas

mexe no roteiro, muda coreografia

abre a peça de pouca filosofia.

O fracasso é inevitável

Os atores embaralham os papéis

invertem as vozes das máscaras

confundem o sentido da encenação.

O Mecenas abandona a platéia

e deixa ao deus dará

os ensaí¬stas veteranos

que abrem o pano

prosseguem na apresentação

para cadeiras vazias

onde chove e estia

sem contemplação.

Do lado de fora

o Mecenas ignora

o esforço na perfeição.

O menestrel ao seu lado

viola o violino

para agradar ao senhorio.

Sua música pede perdão.