RAREZA
Talvez nunca mais nada
entre em meu coração
Se eu me transformar em coisa
Se continuar a viver
mas sem nenhuma vivacidade
Com expressão de objeto que respira
mas com oxigenio puramente oxidante
matando a cada aspirar profundo
a culpa não será tua
apesar de ser por tua causa
que andarei bêbedo pela casa.
Talvez nenhum outro corpo me encante
como um dia me encantei ao teu lado
Se amar indiferente e fizer alguém infeliz
não atribuirei culpa a tua presença
sempre constante em meu coração.
Talvez a vida sempre me pareça sem graça
O sorriso mais rarifeito a cada dia
As coisas acontecendo ao meu lado
sem que consigam me atingir o durame
será por haver dentro do meu coração
uma lembrança que eu sempre ame.
Talvez eu não estivesse preparado
para viver um amor tão denso
Talvez, sequer tenha sido tanto
Tenha inventado dentro de mim
esse sentimento sem fim
que a ti dediquei por tanto tempo.
Ou talvez sequer tenhas percebido
que o amor a ti dedicado era descabido.
Talvez, talvez, serão tantas dúvidas
que de nada adiantará enumerá-las
catalogá-las.
Permanecerão sempre em minha mente
vivas em minhas lembranças
latentes em meu coração.
Talvez seja coisa idiota essa
a de dedicar amor incondicional
em um tempo em que as pessoas
se provam, deliciam-se e largam-se
como operários no vinhaço
Se parecer estranho, ridículo, raro
será prova de que foi válido
tanto amor degustado, saboreado
bebido, sorvido aos goles
após maravilhado com o bouquet
Passam esses dias comuns
- que tudo é comum na tua ausência.
Torna-se a vida um transcorrer de dias
que se acumulam em minhas lembranças
Talvez eu não tenha mais nada para dizer
que todas as palavras serão humildes
para descrever a dor e a felicidade
que é ter você em meus pensamentos.
Mesmo distante, nos momentos mais meus
te trago à minha presença
transformo-os em presentes mágicos
que todos os dia são somente teus
e a mim nada parece descabido
infeliz ou sem sentido
E assim basta-me. Preciso estar vivo
para poder viver essas lembranças
Para esquecer que o homem objeto
no qual me tornei,
que é o que de mim construí
pode erguer todos os dias suas armas
construir belas obras inesquecíveis
Cortar o mundo com seus perigos
que terá sido sempre por amor
que terá sido o que foi
que nada adianta a vida
nada serve o engenho
inutil o desempenho
se não houver amor em cada fibra
em cada gesto
Às vezes o homem se faz objeto
para que nada entre em seu coração
Adquire esse sorriso de coisa
esse aspecto de montanha
essas manias de soldado
apenas para defender-se do amor
ou defender o amor que leva guardado.
As respostas, nunca as terei
Deixo o tempo passar
que a erosão é inexoravel
Quando a rocha fender
deixar ver o homem por dentro
somente nesse dia saberei
se foi grande o amor
ou demais o sofrimento.