MURIAÉ

MURIAÉ

Disseram-me que minha cidade cresceu.

Nela constroem predios eletrônicos,

Mesbla, Lojas Americanas, Banco do Brasil,

e cada espaço é disputado a tapa

e cada palavra dita é um tapa

que ocupa um espaço

na minha cidade

que nao me ocupa as vistas.

Eu nao quis lá voltar para ver

minha cidade crescer.

Dentro de mim ela reside,

pequena, cheia de paralelepípedos

e nao cresce:

Minha cidade ascende.

Nas ruas que conheci

as pessoas que passam

já estão mortas.

Mas elas acenam,

tiram os chapéus,

apeiam da montaria

e nao raro trazem

um guizo de cascavel,

uma bala de garrucha.

um sorriso de afago.

Na minha cidade

tem olho de jabuticaba

olhando comprido para dentro da casa.

Tem assombração no quintal

mula de sete cabeças no pasto

sela atras da porta

e mão morena cozinhando goiaba

tirando um cheiro do fogo

que só mãe tem a receita.

Na minha cidade que sobe

as pessoas tecem dias de cada segundo.

Os mortos que acenam

nem mortos parecem

com um sorriso tao perfeito

tão humilde

capaz de enganar até os bacharéis

que foram meninos lá

mas desertaram cedo.

Que palavra direi aos

mortos

que possa consolá -los

de mortos estarem

se nem mortos parecem ?

Minha cidade vai subindo.

Duvido que ela tenha crescido,

mas não arrisco volver para ver.

Desconfio de irmaos e primos

que moram em geografias e

matemáticas arquitetudo

que chegam e vão

falando da minha cidade

que cresce sem parar, aos tapas.

Sorrio. Olho o céu:

Em cima dos edifícios

e da poluicao

minha cidade continua intocável

por mão especulobiliaria.

Cheia de crendices

charretes

e meninos de nove anos que sonham:

Muriaé,

no céu do Rio de Janeiro.