A OBRA HUMANA
Estamos muito cansados
De nossos trabalhos
Pelas notícias que levamos
Ao conhecimento de todos
A cada dia
Estamos, de fato, cansados
Nossos corpos fatigados
Reclamam repouso
Descanso digno e suficiente
Muito temos construído
E criado
Por acaso saberemos
Quantos quilômetros
De papel escrevemos
Nos últimos cem anos
Da historia do homem?
Foi preciso muito escrever
Para chegar aonde estamos
Os homens-papiros
Homens cansados
Cansados e escreventes
As mulheres andam grávidas
Os homens melancólicos
A pungência não cessa
Escreveremos mais alguns
Trilhões de palavras
Antes delas desistirmos.
Na certa escreveremos
Decerto, não desistiremos
Ou, quem sabe, sim?
Poderá o homem
Como é inconstante
Às portas do fim
Recomeçar tudo
Por isso andamos cansados
As mulheres grávidas
Pela incerteza do mundo
As mulheres aguardam,
Vigilantes, no canto da cama
A hora de deitar
Os homens, convalescentes
Tomam sopas
Ou fortes e resistentes
Trôpegos de cervejas
Sempre estão na batalha humana
De comer e procriar
Para alguns, finas iguarias
Outros, nojentas porcarias
Ou nada
Que o alimento é escasso
E grande a fome
Papel, caneta, palavra
A arma do homem.