ÉGIDE
Antes que minha mão busque o cigarro
Algo se impõe entre ela e mim,
Como sombra.
Um fantasma de ti que não mais assombra
Apenas surfa nas ondas
Das lembranças
Querendo estar vivo dentro de mim
Quando já há muito morri
Contigo dentro de mim.
Horas vãs, horas vagas
imperpétuas de felicidade
Sonhos vivos ao romper do dia
amargas horas, doces sonhos na aurora
leve madrugada a fugir do claror do dia
Antes que meu coração almeje o punhal
um vulto vem ao ouvido dizer
palavras que amortecem todas as quedas
que torna minha ânsia lerda
que afasta das desgraças o mal.
Os espectros que passeam pela casa
passe-partout, escancaram os cômodos
estabelecem quartos de vigília
protegendo a mim que já morri de ti.
Horas vãs, horas vagas,
imperpétuas de felicidade
o coração se abastece de esperanças
claro-escuro, o crepúsculo abraça o dia.
Assoma o vulto, passa perto
deixa no ar um perfume que nunca esqueço
uma dor que não mereço
um sentimento que não mais quero.
Sorrio o sorriso dos conformados
quando o coração que fora sepulcro
redivive o que cria lapidificado
Meu lastro único no mundo
É este amor que vaga eterizado
Coisa vã, horas vagas, incrédulas na felicidade
quando se mistura a noite no dia
Adormeço lentamente, antes do cigarro
sabendo que não mato em mim o que de ti havia
pois, abastece-me de esperança tua presença
a esperança abastece-se de vida. minha
única proteção na aurora ao fulgir do dia.