DISPARADA

DISPARADA

Passam por mim em disparada.

Oiço-lhes o tropel. Voz muda.

As mãos não chegam às rédeas

A vontade não serve para nada.

A velocidade das cavalgaduras

Atordoa meus olhos. Fere.

Ficam no ar os riscos da sua passagem,

Manchas que atravessam as ruas.

Onde quer que vá é o atropelo.

São belos, vários pelos becos

Sob o sol, lua, amor e medo.

Não obedecem nada. Desespero.

Deliro em minhas janelas

Vendo-os riscar os dias.

Assustam-me nas noites

Quando passam. Mazelas.

Não encontro um sequer rocinante.

São sempre altivos, bravios, indômitos

Nada os detém, voam sem pousa

Estrebaria. Não lhes sei rumo nem nomes.

Um dia pensei tratar-se de tropilha

Que tivessem direção definida

Seguindo algum tropeiro ou dono

Mas é apenas cavalaria.

Observo a marcha forçada da bestiagem

Sem atinar com o sentido das idas e vindas

Como circulassem à minha volta em mostra

Do seu poder, fúria ou da pelagem.

Atônito, tendo dar sentido à manada

Dos anos que passam em disparada

Como se fossem cavalos sem brida

Todos os dias da minha vida.