ABASTECIMENTO
No caminho para minha casa
passa boi, passa boiada
passam soldados, carros e lotacao
passam mendigos, alfaiates
passam padres em tentacao
passam prostitutas e elefantes
quando chega o circo na cidade
cheia de risos de palhaços sem solucao.
No caminho para o trabalho
passa boi, passa boiada
auxiliares d'almoxarifado
engenheiros, estudantes
gerentes de bandos, chefes de repartição
passam aposentados aposentados
comunistas remunerados
e muitos erros de fabricação
passa a moça da bomboniére
magra magra sem sonho de valsa
que dança com os homens
o tango de sua solidão
capitalistas descapitalizados
preocupados por vocacão
tem o moço loiro que é padeiro
que faz bolos com paixão.
No caminho da escola
passa tanta gente, tanta gente
que é impossível dizer quem são.
Seus passos são tão urgentes
que se chamam apenas multidão.
Passa o trem que não tem hora
passam estudantes cheios de ilusão
de tanger essa boiada
para onde haja forragem farta
e um córrego de libertação.
Nos caminhos por onde ando
passa boi, passa boiada
passo eu em disparada
passo eu junto a manada
ruminando paz e pão.