ANDO DEVAGAR
Ando devagar, atenção de iguana
Com o coração levitando sobre porcelanas
Enquanto as ruas correm ao meu lado
As pessoas passam voando
Deixando espectros deformados de luz
Já tive essa pressa, ânsia, fome
Já voei feroz, sem noção do céu.
Aspirava fuligem, expirava ferro
Engrenagens rodopiavam em meu cérebro
E todas as coisas tinham nomes definidos
Dos quais me esquecia em minha fúria
Provei os sabores sem degustá-los.
Todos eles.
Acariciei, afaguei, sem sentir o toque
Todas as emoções que poderia ter sentido
Apenas enveredei por elas
Sem deter-me para apreciar suas belezas
E tristezas inerentes
Ando devagar, sem sofrer
Apenas descolo um pé de cada vez do chão
Na espera do milagre do próximo passo
Ando devagar, tenho compaixão das passadas
Derramo amor em cada pegada
Com essa atenção de iguana
Com esse sorriso de criança
Com tamanha fé em minha esperança
Que me assustam os ardentes flamejando
Deixando um rastro que entendo bem
Que percebo bem, agora, que ando devagar