(Uma fábula razoável: porque só se dá valor depois da perda)
Um dia o Planeta Terra
Também sentiu solidão
E pediu pro Astro-Rei
A seguinte permissão:
"Majestade, gostaria
De me afastar por uns dias
Pra percorrer todo o espaço.
Encontrar — é o que lhe peço —
Algum astro do universo
Que me queira nos seus braços!"
Senhor Sol, experiente,
Pensou calado um momento.
Depois tirou da gaveta
Um maço de documentos.
Correu olhos. Releu notas.
Consultou via por via.
E respondeu com firmeza:
"Encontrarás em seis dias!"
O Planeta irradiante
Voltou cheio de ilusão.
Mais seis noites bastariam
E nunca mais solidão.
Ficou todo sentimentos.
Sonhou (que o sonho atenua...).
Nessa noite escreveu prosa
E versos à luz da Lua.
Dia seguinte: "Mais cinco,
Só mais cinco pra esperar..."
Imaginou cinderelas,
Enquanto via o luar.
Noite seguinte: "Mais quatro..."
Foi pra varanda sonhar.
Só a Lua não viera:
Teve eclipse lunar.
Noite seguinte: "Mais três...
Só mais três hei de esperar!"
Procurou Lua no céu.
Foi inútil procurar.
O céu escuro e sombrio
Não tinha o mesmo calor.
O vento soprava frio;
O mundo todo era dor.
Veio então quinta noite:
Faltavam apenas duas.
Veio a noite. A noite veio,
Mas nada de vir a Lua.
O Planeta apavorado:
"Estaria a Lua morta?"
Foi pedir ao Astro-Rei:
"Eu quero a Lua de volta!"
Senhor Sol, apreensivo,
Ficou calado um momento,
Depois disse, confirmando
antigo pressentimento:
"Senhora Lua partiu
— Veio pedir permissão —
Porque não suportaria
Passar o resto dos dias
Sofrendo de solidão".
O Planeta emocionado
— Um brilho novo nas faces —
Disse que não partiria
Se a doce Lua voltasse.
Senhor Sol, experiente,
Consultou a papelada
E respondeu, com firmeza:
"Amanhã de madrugada!"
O Planeta irradiante
Voltou cheio de razão:
"Mais uma noite somente
E nunca mais solidão!"
Osasco-SP, fevereiro de 1991 - pouco antes do meio-dia