JAZIGOS (Axills)
Dentro do escritório de segurança máxima eles usam o celular
E dão as ordens para sitiar a cidade
E de repente ficamos proibidos de ir à rua
Comprar pão, macarrão, feijão
Sem poder pisar na varanda
Trancamos todas as portas e janelas
Há que sobreviver sem ar nesses dias
Trancafiados em algum corredor do apartamento
Cercado pelo maior número de paredes
O mercado imobiliário aboliu o drywall
Os apartamentos de fundo e sem vista
Triplicaram o valor
O que somos nós cariocas amantes dessa cidade?
Alienados? Conformados?
Esperando flamengo, vasco, fluminense ou botafogo ser campeão
Não, não somos.
Somos sobreviventes, os de nós que ainda respiram.
Como guinus africanos atravessando um rio inundado de crocodilos
Do outro lado, na outra margem encontra-se um verde capim
É preciso atravessar o rio,
Como é preciso buscar o pão, o macarrão e o feijão
Como é do outro lado que estão as escolas
As fábricas, as oportunidades
Saímos de casa e atravessamos o rio
Alguns guinus são devorados
Faz parte de algo chamado cadeia alimentar
Como fazemos parte da cadeia alimentar da nossa política de segurança
Do nosso governo corrupto, da nossa moderna escravidão
Os mais fortes, sortudos e abençoados (ou malditos?) sobrevivem
Trancafiados em algum corredor do apartamento
Cercado pelo maior número de paredes
Com Trancas em suas portas e janelas
Respirando o pouco de ar que lhes resta em seus jazigos