tudo passa e nada importa
indiferente tenaz veloz
pouco
assaz
(o blues e o jazz!)
longe perto aqui ali além aquém
agora nunca pra sempre e jamais
tudo que é velho o que há de vir
o que passou e é novo e só chora
[tudo que é raro e que rir
o que foi eterno e apodreceu
sem sal sem lei sem rubor
(ou pudor!)
sem amargura sem frescura e sem
[mel
tudo passa e nada importa
se pela janela ou pela garganta
(goela adentro)
pelo vaso sanitário todo sujo de
[bosta
pela avenida caótica pelo vento
pela porta
não importa
se tudo é matéria bruta
[da natureza morta
se nada importa
se tudo que passa pela porta
pela jugular pela aorta
não importa
se
tudo passa
e nada importa...
não importa o ouro as vírgulas
[que faltam ao poema
o sorvete gelado na esquina
o disco a música o som o cinema
se tudo
ao fim
de tudo
é nada
absurdo
ou canta ou é mudo
se o azul cintila no céu do verão
ou o verde exala a essência
[da respiração
se é sim se é não se lambe
se corta
não importa
é langue?
é fossa?
é mangue?
é bossa?
que importa?
se tudo existe e nada importa.