Um corpo de cetim translúcido no verbo um espiral de seda de todas as mãos na chama branca da água. É a memória do poeta na poesia imaculada apenas um poente vermelho uma seiva ácida sobre o urro da sombra. Ainda mais subterrâneo é a flor do alecrim prematuro E não tardarão as papoulas reflorindo o seu vermelho É a vida, a primavera! Reinventando poemas , vivo sempre mais do que escrevo A poesia fica de fora das coisas nos seus lábios doces e fecundos No mais, todas as estrelas estão presas em sonhos infinitos E eu verterei milhões lágrimas, como um tecido veste o corpo, por dentro. Fora a poesia, uma tábua rasa dos dias, nas palavras compridas de cor... Vejo o mar e desejo mais que o sal quero um frasco de vidro cheio de céu porque o céu somos nós que o criámos há muito tempo quando choramos, quando amamos... com ventos de teias cinzentas de janelas Acredite, tudo é anónimo no amor, na paixão feitos de contradições, de cores inimigas Eu tenho os olhos cheios de um mar no vértice de um pêndulo como se pudesse a alma estar sempre assim tão perto. Esse silêncio eu não esqueço repetir-te no gesto os futuros verbos: as tuas rosas.