CANTO DOS CANTOS DE AMOR VII
Lílian Maial
É noite em meu leito,
Madrugada em meu peito
E tu não estás...
Percorro os becos, as luas, constelações,
Mas não encontro aquele que me traz a paz,
O que me faz sentir a vida,
Belo como o girassol,
Com as formas de guerreiro grego
E a força de rei piedoso.
Aquele cujos olhos enxergam além do que me vejo,
O que tem a voz de lã de mil rebanhos,
E a boca de morangos silvestres.
Aquele – amado meu - que tem o peito de armadura,
A coragem de exércitos
E a beleza do cisne.
O escolhido entre os escolhidos,
Que me faz delirar com os olhos,
Com a mão estendida,
O calor e a palavra amiga.
É noite, e o cheiro dos teus perfumes vela meu sono.
Sonho com tua pele de incenso e mirra,
Teus carinhos de bálsamos, que me brotam nascentes.
Os aromas e beijos que inebriam como vinho,
Que adoçam como o mel,
E a língua de canela, tempero das minhas noites.
É tarde, e um jardim perfumado de pétalas de tua boca
Exala odores de madressilva,
Onde busca alento o beija-flor do meu amor.
Leva para longe teus olhos, que me desconcertam,
Desatinam-me, mas não me despertam,
E quero estar contigo, amado amigo!
Correr por teus pêlos de trigais,
Adornando os braços de marfim,
É como me perder em lençóis de puro linho
E travesseiros de cetim.
É nas pétalas de teus lábios de vinho
Que matarei a sede de teus beijos.
Inunda-me das tuas vinhas!
Acorda-me, amado, que já é dia!
A madrugada me foi cruel,
E não há versos para roubar promessas,
E nem há sonhos de me trazer tuas mãos...
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