Como poeta, analiso, Descrevo e transformo em verso Que cada lugar que piso É parte de um universo. Sinto, na luz dos meus olhos, A flacidez dos abrolhos, Céu distante, mar profundo. Da Terra, esfera suspensa, Deus marca a Sua Presença Em tudo que há no mundo!
Conhecê-Lo, eu não conheço, Visitá-Lo, eu nunca pude. Mas Ele é o endereço Que nos conduz à virtude. Deus é poder invisível, Abstrato, indescritível, Difícil de se entender. Do catedrático, ao anônimo, Em tudo está o sinônimo Do Seu imenso poder.
Deus está na nossa mente, Na forma que a gente pensa, Nas coisas que a gente sente, De acordo a nossa crença. Deus é a luz que aparece Na hora que amanhece, Prá nos trazer alegria, Embelezando a aurora, Quando a noite vai embora, Dando vida ao novo dia.
Deus orienta o inculto, Com força e perseverança. Dá paciência ao adulto, Prá conduzir a criança. Deus está na flor cheirosa, Na planta leguminosa, Que alimenta a nação. No vento, na noite cálida, No rosto da lua pálida Que embeleza o sertão!
Deus está mo movimento Dos animais na floresta, Nas aves fazendo festa, No seu acasalamento. Na fruta que cai do cacho, Na fêmea que atrai o macho, Na pétala que traz o brilho. Está na ânsia do quarto, Confortando a dor do parto Do ventre que gera o filho!
Deus está na melodia Do sabiá laranjeira, Na fonte de água fria, No grito da lavandeira. No veneno da serpente, No germinar da semente, No mel que tem na resina. Na ciência, na fragrância, Na raiz, na substância, No saber da Medicina.
Deus está no mel da cana Que produz a rapadura. Na casca da umburana, No vapor da terra dura. Na plumagem da arara, No fruto da caiçara, Na flor do mandacaru. No espinhal do abismo, Na beleza e romantismo Da voz do uirapuru!
Deus está, por Sua vez, No calor da sequidão, Na lágrima do camponês, Que chora a falta de pão. Deus está presente na dor, Na angústia, no amor, No lamento dos plebeus. Deus está sempre de pé, Prá dar um pouco de fé A quem não conhece Deus!
Deus se encontra no pistilo Da flor do maracujá, No casco do crocodilo, Na pena do tangará. Deus é a água da chuva, O mel da polpa da uva, Que serve de vitamina. É o ouro derretido Do vulcão adormecido, Que está no centro da mina.
Deus está na plenitude Do sorriso da criança, No vigor da juventude E na velhice que cansa. Na obediência do filho, Tá na boneca de milho Com seus cabelos compridos. Tá na riqueza da alma, Na paciência e na calma Dos menos favorecidos.
Deus está na translação Da Terra, em seu movimento. Na força do furacão, Na tempestade e no vento. Está nos bosques sombrios, Na confluência dos rios, Na aridez do calcário. Está no deserto enorme, No beduíno que dorme, No passo do dromedário.
Deus está na construção Do joão-de-barro engenhoso, Na plumagem do pavão, Elegante e vaidoso. Tá na forma conjugal E no ato sexual, Quando a libido é pura, Sem químicas nem alcalóides, Milhões de espermatozóides, Gerando uma criatura.
Deus está entre os rochedos, Nas estradas poeirentas, Nas nebulosas cinzentas, Nos alcantis e lajedos. Deus tá na Fauna e na Flora, Na araponga que mora No mais alto da montanha. Nos arbustos aromáticos, Nos pontos enigmáticos, Dos tecidos da aranha.
Deus é a única razão Da nossa sobrevivência, O pulsar do coração, A voz, a inteligência. Não sou nenhum pregador, Não sou padre, nem pastor, Não me entrego ao cansaço: Sem religião nem crença, Sinto, de Deus, a Presença, Em cada coisa que faço.
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Meu Compadre Onildo Barbosa, que este Mesmo Deus - que você descreve tão bem - continue lhe abençoando e iluminando, pois nós precisamos - e muito!... - da sua poesia!