ENGENHO DE PAU ( * )

Meu filho está na hora

Vamos levantar agora

Vá buscar nossa boiada

Num pulo eu estava de pé

Pela alta madrugada

Papai ia para a varanda

Pegava ajoujos e cangas

Na escura madrugada

Eu com a vara de ferrão

Saia pela invernada

Descalço de pés no chão

Pisando a relva molhada

Menino esperto fogoso

Vamos bois, vamos boiada.

Companheira reunida

Cada um na sua função

Fornalhas de fogo aceso

Começava o barulhão.

Bois amarrados na manjara

Engenho de pau estalava

Distancia de légua e meia

A vizinhança escutava

Garapa corria no gamelão

Pra pegar puxa, melado

A quentinha rapadura

Tudo isso era alegria

Não achava a vida dura

Chegava o fim do mês

Tamanha era a fartura.

E assim levava a vida

Na fazenda a trabalhar

Veio minha mocidade

Parei cedo de estudar

Pela filha do vizinho

Coração a palpitar.

Minha vida um mar de rosas

Ela sentia também

Quantas vezes trocamos juras

Na sombra daquele engenho.

Certo dia bem me lembro

Numa tarde de setembro

Já tomados de paixões

Ela no esteio do engenho

Esculpiu dois corações.

Hoje olhamos no espelho

Nossos cabelos branquearam

Meus companheiros mais velhos

No fim da vida chegaram

Engenho velho no mangueiro

Com o peso dos janeiros

Balança caiu no chão

Moendas apodreceram

Na mais triste solidão.

Até hoje eu e ela

Não paramos de sonhar

Juntos temos esta história

Para aos netinhos contar.

( * ) A referida poesia é de autoria de ( Manoel da Silveira Corrêa - conhecido em Vazante-MG como: Manoel da Tunica). Disponível em: http://rogerioscorrea.blogspot.com