ENTRE TEUS SONHOS
J.B.Xavier
Por que, que quando penso em liberdade, penso na prisão
Em que ardorosamente me manténs, no mágico laço
Que flui do teus olhos, de tua alma e do teu coração
E me faz sempre mais prisioneiro do teu abraço?
Por que me manténs assim nessa agonia, nessa perene solidão,
Se conheces os gritos silenciosos, que como afiadas lanças, transpasso
Os profundos abismos que mergulho, o sonho que dança como alucinação,
Na qual me deixo submergir, completamente ausente e lasso?
Por que insistes em me trazer futuros, se sabes que a luz fere a escuridão
E ao trazer-me paz, traz-me também o ritmo eterno de teu compasso,
Na feliz reunião de minha alma com tua alma, de minha mão com tua mão,
No brilho de uma claridade jamais sonhada em que me enlaço?
Por que manténs assim, a porta aberta, e de minha rosa aspiras o botão,
Se sabes que contigo sou jardim, se és energia sou cansaço,
Se sabes que se és mar, sou oceano, se és pureza, sou devassidão,
E que para sempre haverei de repousar assim, em teu regaço?
Aprisiona-me, portanto, nessa liberdade que me torna comunhão
Com o universo, que flui de ti e em mim vai deixando teu traço,
Enclausura-me nessa cripta onde respiro tua própria emoção,
E bebe desta taça do sonho, onde entre teus sonhos, me desfaço...
* * *
JB Xavier
Publicado no Recanto das Letras em 07/07/2007
Código do texto: T555310