AUTO DE OUTONO
AUTO DE OUTONO
Similar à dança sensual de uma odalisca,
Folhas bailam como um véu mulçumano.
Silenciosas, movimentam-se maduras,
E vão pousar discretas sobre o real trono,
Pintado de marrom com verdes ranhuras.
Descem empurradas pelo vento leve.
Solitárias ou em pequenos grupos,
Vão criando caramelos colchões de neve,
Leito móvel que estala sob os pés descalços
Da poesia, que a tudo assiste e descreve.
Tons pastéis são molduras do cenário
Pincelado por ipês roxos, abacates, amoras,
Que surgem como quem sai do armário
Á noite, surpreendendo as auroras,
Cada dia, com seu novo vestuário.
Instala-se e cumpre à risca o seu papel.
Irreversível, segue o ritmo da ventania.
Depois marcha para o deserto, a tropel.
Vai enxugar a voz do cantor ao meio-dia
E ralar a mão do escultor, com seu cinzel.
Dará por fim boas vindas ao forasteiro,
Reverenciando-lhe a chegada com chapéu
E retira-se, entregando o comando inteiro,
A quem dominará a cena como menestrel.
Bsb, 12/04/07
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