José António Gonçalves
São de fogo os seus cabelos soltos
suspirando ao longo das montanhas
onde há cavalos cheirando a suor e a pássaros
feridos de silêncio.
Há maresia nos seus olhos serenos
e brandos de lume
perdidos em ondas de ternura e vento
e há espelhos e pradarias imensas e quentes
chispas de sol derretendo gestos e falas
nos recantos das pálpebras
de veludo.
O seu corpo solta-se de repente
em tempestades convulsas de erva molhada
por sobre um lençol de terra
com sabor a fruta fresca e a madeira antiga
lembrando palavras
que nunca foram ditas.
José António Gonçalves
(in "Esquivas São as Aves",Col. Cadernos Ilha, nº.11, Ed. Correio da Madeira, 2001)