(Um romance não se acaba, transforma-se em lembrança...)
Lembra que houve solidão
e que teu coração
quis se fundir ao meu?
Lembra a lua só metade
e que a felicidade
quase aconteceu?
Lembra as noites de Ilhabela
e quando pensar nelas
saiba o quanto amei.
Outras bem que serão belas
mas iguais aquelas
se haverá não sei.
Lembra do primeiro gesto;
se quiser, te empresto
uma recordação:
noite, música, carona...
e elegi a dona
do meu coração!
Lembra que me fez parceiro
e não um prisioneiro
nem o teu herói.
Lembra que minh'alma chora...
Mas esquece agora
se a lembrança dói.
Lembra — e nada mais te peço —
que só te dei versos,
pois não tinha mais.
Lembra — e se isso não te serve,
por favor preserve
os bens materiais.
Lembra que eu te quis esposa
e todas essas coisas
que um marido quer.
Nunca achei que o desencontro
me fizesse monstro
a quem fiz mulher.
Lembra: se foi minha a culpa,
não será desculpa
pra te inocentar.
Lembra: se hoje já não presto,
lembra cada gesto,
lembra de lembrar.
Lembra que o poeta ainda
diz palavras lindas,
mas não servem mais.
São como o punhal de prata,
belo — porém mata
como outros punhais.
Itapecerica da Serra, 13/03/2000 (22h12min)