O ENDEREÇO
(22 tercetos curtos)
Existe no mundo um preceito
No aspecto físico, um local,
Que é chamado endereço.
É um pedaço do planeta
Onde alguém se faz presente
De certo modo freqüente...
E foi num desses passos,
Que emanando sentimentos,
Alguém me quis nos braços...
Sorria e conversava
Com alegria, agradava
Meu dia, que me transformava.
Passei a irradiar o calor
Daquele que recebe o amor,
Sem nada tirar nem por.
E assim por tempos e tempos,
Um dia chegamos a um ponto
Que precisávamos parar.
Fosse só para tomar ar,
Para ventilar. Arrefecer...
E começamos a procurar.
Aí surgiram os fatos
Que não vão merecer relato
Para não causar embaraço.
Foi uma situação ingrata,
Onde um causou ao outro
Uma sensação de desgraça;
Uma terrível ameaça:
Voltar ao mundo sem graça
De onde tinham vindo os dois;
E resolveram regredir,
Puseram o amor a perder,
Pelo mundo sujo trocar...
Não havendo como fazer
Para voltar ao tempo anterior,
Foi-se esquecendo a paixão;
E foi o amor desprezado,
Cuspido, relegado, pisado...
E sem fazer nenhum favor,
Esquecido e descorado...
O amor se fez coitado,
De mágoa e rancor preenchido,
Desquerido, resfriado, incompreendido...
Partido em pedaços...
Palhaço.
E o amor ficou sem lugar,
Ausente da moradia,
Ao relento, na madrugada, na fria,
Não havia movimento,
Nem palavras sussurradas,
Juras no rosto estampadas,
Nem o sono aprofundado
Do retorno apaixonado
À claridade do dia...
Mas em tempos parecidos,
Em dias e horas contados,
A força do amor se levanta,
Das cinzas ressurge a chama,
Num fênix mais real
Que a fumaça da lenda emana.
E por tudo que é sagrado,
Pela força das profecias,
Pelo direito e pelo avesso,
O amor foi reencontrado,
Retornando à moradia
E voltando ao endereço...
Abril 2003