PÁSSARO CALADO---***
Vejo no horizonte certo céu ao contrario,
como se de ponta cabeça o pássaro tombado
não voasse mais.
Entrecortadas e reverberantes
as palavras batem nas pedras,
e não são risos nem prantos.
Ouço ecos ancestrais, na minha pele branca
velhos sinais como se tatuadas fossem,
na memória do passado
que dançam sem sair do lugar.
Olho nos contornos deste rosto
destes olhos com cores de por do sol,
que a muito se deitam sobre as folhas
que passeiam mudando tudo de lugar.
Sinto arrepios que não são meus,
mas que me causam frio,
um frio glacial.
Vejo no horizonte
certo gosto de sal dos mares visitados
pelos meus doces lábios molhados,
espumantes ondas medievais nesta minha contemporaneidade
na pororoca dos rios.
E gritam as vozes de outros tempos
ecoando pela eternidade,
do pássaro que já não canta,
vendo tudo de ponta cabeça.
Cássia Da Rovare
"30 anos depois,
você ainda descansa nos meus ais,
suavizando a tortura,
quando posso sentir o teu cheiro
sugando o leite dos meus seios".