para a Sónia
A memória jaz endividada
não mais houve o toque endiabrado e o couraçado
a lembrança dos beijos e do sexo ardente
meros refúgios de remoinhos enlouquecidos
Não, não quero sonhar e delirar
houve o tempo em que as meras palavras
causavam o imediato sufoco
loucura desencantada sem remédio aparente
A tempestade passou e não vai poder voltar
apenas um amor profundo de comunhão
solidariedade apesar do pudor, já crescido
ficaram ao menos os abraços ternos e quentes
Enquanto a solidão aperta
a memória se torna incerta
o silêncio, outro dom que fortalece,
o tempo passou a ser de acções
E quando mais tarde recordar
algo de muito puro, sem igual
encostarei o ouvido ao teu coração
e saberei quando a morte entrou sem pedir licença