MENTIRAS QUASE INOCENTES
Todos os dias aquele sorriso
Uma circunstância feliz
O que faz apetecer chegar
Envolver o corpo
Deixar-se ir
E o consumo acelerado diário
Algo esquecido para a noite serena
Algo paira no ar
Mas não apetece saber
Sabe bem o beijo ardente
Lá fora um pouco de frio
O pensamento posto noutro lugar
A vida numa encruzilhada
Mas o sorriso permanece
Apesar do medo latente da descoberta
E o pequeno pormenor
Aquela vez em que virou a boca
Em que os olhos cruzaram o nada
Algo ficou a pairar no ar
Mas o sorriso permanece
E um dia chega mais tarde
Com um ramo de rosas viçosas
A festejar algo
Uma surpresa agradável
E o medo a aumentar sem fim
E um dia ela não aparece
E algo acontece
Um carrossel de sentimentos a pairar
Desce à Terra para saciar a carne
Mesmo que tudo seja fantasia
E um dia o sorriso vai-se
O amor fica por fazer
E a mentira latente impede o diálogo
Apenas a lamentação fica
De o hábito poder deixar de ser
E nenhum dia mais
Ver aquele sorriso meigo
A cegueira que dominou o corpo
Os pormenores que trocaram de sitio
Sem aviso, sem atenção
E ela foi-se embora
Nem houve lugar para pensar
E ele nunca percebeu o porquê
De uma história de pequenos capítulos
Preenchidos com ternura, alguma atenção, imaginação
E as vezes do dizer do amor
Apenas para silenciar a dor
Foram-se embora
Ficando a justa provação
Mas o sorriso encantador...
http://manuelantoniomarques.blogspot.com/2007/01/mentiras-quase-inocentes.html
in O MEDO DO DIA SEGUINTE - Magna Editora - 2007