Blefe

Blefe

Se não quiseres ler, não leias
Se esperas encontrar poesias exuberantes
Que falem da natureza bela,
Do amor possível e do sorriso presente,
Mude de página e procure no poeta ao lado.

Se não quiseres ler, fujas
Para as fantasias que procuras viver
Pois cá, na terra dos poetas de meia-idade,
A solidão é companheira certa.

Leia as demais poesias
E verás o lamento presente nas entrelinhas,
Quando não em todas elas.

Se quiseres uma poesia para alegrar-se
Procures piadas baratas narradas por comediantes
Que de alegria a maioria nada tem
Pois no fundo são poetas da vida
Que disfarçam em piadas
O inverno cruel de suas almas tristes.

Ah, a alegria, será que existe?
Claro que sim, mas por um breve tempo somente
Talvez lá na juventude aonde tudo é esperança
E o sucesso é certo, ah se é!
Mas a vida é traiçoeira e não está nem aí
Para o nosso otimismo infantil.

Se quiseres ler coisas felizes…
Faça você mesmo este teste
E tente escrever três estrofes somente
E é certo que com poucas linhas se contente.

Não quero uma manta
Prá amenizar o frio da solidão
Quero o silêncio e um toque de luz
Desse Sol que me aquece como uma ama
Que, por pagamento, de mim cuida.

Não quero comiseração
Nem palavras de otimismo
Quero a distância necessária
Pro poeta virar pelo avesso
E esfregar a solidão no assoalho.

Não se preocupe, pois sei disfarçar
E quem me olhar,
Não verá um solitário caminhando
Cabisbaixo…

Verá um meia-idade
Com semblante de vencedor
Que sabe o que quer
E o sucesso alcançou…

Mas é blefe…