Olhos nos olhos! O rancor era uma ponte que interligava-nos somente pelo olhar. Éramos nós, apenas nós, naquele fronte e essa batalha enfim achou o seu lugar. Não houve estrondos luminosos no horizonte. As armas eram de ferir, não de matar.
Fui o primeiro a disparar as baterias e despejei-lhe tudo que me vinha à mente. Interpelei-o pela vil patifaria de sabotar a minha vida totalmente. Pois ele tudo destruiu por onde ia e não poupou nada que visse em sua frente.
Mas o revide veio logo na sequência e ele acusou-me de ter ido por caminhos que eu não devia, caso ouvisse a consciência. E insinuou que destruí a mim sozinho e que ele apenas, por um gesto de clemência, pôs um final em meu insano torvelinho.
Vociferei que ele mostrou-se um traidor, que não correu quando o chamei em meu socorro. Que me deixou sempre à mercê da minha dor; que inerte viu meu coração sangrar em jorros; que nunca deu um só apoio pelo amor e agora ri-se quando vê que quase morro.
E com sorrisos de ironia em sua face ele jurou não ter prazer com minha morte. Mas, mesmo assim, gargalharia se eu chorasse porque fui eu que construí a minha sorte e que jamais, fosse qual fosse o desenlace eu soube ouvir uma palavra que conforte.
Mas, de repente, não sei bem porque, calamos. E esse silêncio se instaurou como armistício. Nós estivemos em disputa há tantos anos e só agora é que quisemos pôr fim nisso. Esse confronto nunca esteve em nossos planos, mas a batalha derradeira teve início.
Vi-me, batido, sucumbir de olhos vermelhos. Mesmo querendo resistir, ali caí! E ele exigiu que eu me pusesse de joelhos. Vi o inimigo, como outrora nunca vi e em desespero, enfim, quebrei aquele espelho. Já não o vejo e mesmo assim ele está aqui!