Fugindo do Destino
Perdidos, pois que de alguma forma
se pressente que vivemos como que desgarrados.
Fugindo do destino, e ele
nos perseguindo implacavelmente.
Amando por odiar.
E odiando, por vezes, amando tanto...
Cindidos em muitos,
e são tantos que pouco se entendem...
Fantasmas de nós mesmos,
embriagados pela amargura,
mas viciados na doçura da melancolia.
Nem vivos, nem mortos,
um túmulo, será tudo o que resta?
Melhor crer na ponte,
nas cores apagadas que ressurgem
querendo viver.
Mas como vencer o temor?
Aonde poderia nos levar a ponte?
Não seria melhor só a certeza do túmulo?
Mas que fazer se este é um abismo sem fundo,
se não se encontra seu fim?
Não seria ele próprio uma ponte?
Os cegos que não veem,
aqueles que na escuridão
depuram os seus sentidos,
pois que os olhos podem nos enganar
e ver pode não ser suficiente.
O sentido está além da ponte,
seja aonde ela quiser levar. E ela não é concreta.
Antes, sim, é abstrata, imagem onírica
querendo invadir a vida real.
Objeto sem sentido
querendo tomar significado.
Mas os olhos duvidam ver,
os ouvidos se fazem de surdos,
pois nada querem escutar.
E então a dúvida:
a inquietação do louco
que cria pelo impulso
ou a paz do cordato
que apenas vive seus dias?