Doces Lembranças
Os sentimentos desafiam
as ponderações do raciocínio.
Não conseguindo conter a imaginação,
apelam às suas armas.
Tentam convencer
de que nem tudo foi apenas
uma grande ilusão.
Alimentam uma lembrança:
o vivo olhar a desejá-lo.
Irritam seu possuidor
por não aceitar a submissão das emoções.
Este apela à raiva para tentar afastá-los.
Percebe que estes o deixam vulnerável.
Organiza-se para uma guerra íntima.
Inflexibiliza-se.
Quer erguer barreiras
para conter os eventuais sofrimentos.
Sua força esbarra,
entretanto, no apego pelas lembranças,
terrível medo de estar perdendo
a sua felicidade.
Não teria estado às portas do paraíso?
E por que simplesmente não entrou?
E agora fica ali sentado,
mergulhado em suas ponderações.
Não haveria muitos sonhos
para serem vividos?
Abandonou-os por medo?
Decepcionar -se ou frustrar-se.
Não seria melhor ser dominado
por um perdão impulsivo,
abrindo, assim, aquela porta
e saindo em busca desesperada?
Pois que ao perdido no deserto importa,
antes de tudo, a água,
do que a sede orgulhosa.