Aventura no cordel
Pondo este “site” em revista
vasculhei o texto alheio
investigando um pista
que houvesse aí pelo meio,
nas histórias de conquista,
nos amores sem rodeio,
mas o que acertou-me em cheio
foi a arte cordelista.
Notei logo o desafio
que é cantar dessa maneira
tal qual desfiar um fio
de meada trapaceira,
que tem ponta de pavio
mas não se encontra a rabeira.
Pareceu-me uma besteira,
mas não é – eu desconfio!
Agora que pus-me na lida
meu desejo é prosseguir
e mesmo que haja saída
não quero dela sair.
Escrevi coisas na vida,
fiz chorar e fiz sorrir
e cordel me fez sentir
uma força adormecida.
Esse traço da cultura –
que eu não havia notado –
traz em si a tal postura
do nortista abençoado,
que enfrenta uma vida dura,
mas nunca deixa de lado,
mesmo com tanta amargura,
a fé na vida futura
sem um fardo tão pesado.
Cordel é simples, direto,
mas é rico em conteúdo,
não tem sentido secreto
e fala de quase tudo.
Vai do avô, ao pai, ao neto,
ver do cego e voz do mudo,
é o saber que é sem estudo,
É o abstrato e o concreto.
Penso que isso é o bastante
e a alegria se renova,
pois juro, amei cada instante
desta aventura de alcova,
pois do cordel fiz-me amante.
Sei que é fraca a minha trova
e não será posta à prova
pendurada num barbante.
Tudo cá é de mentirinha,
a pena, a tinta e o papel.
A Internet hoje é rainha
de uma Torre de Babel.
Não há porta ou campainha,
todos entram num tropel,
cada um co'a voz que tinha.
Hoje, cá entrei co´a minha
falando pelo cordel.